A transição de uma festa popular local para uma grande festa regional
Por Juan Ricthelly
Algo visível até essa altura da nossa história é a participação da comunidade na organização da festa de aniversário do Gama, como se pode verificar no Correio Braziliense do dia 27 agosto de 1980:
Prosseguem os contatos entre a Administração Regional e as lideranças comunitárias, visando festejar o aniversário da cidade de acordo com os anseios da comunidade. Segundo o Administrador Walmir Campelo Bezerra. “por isso é que a própria comunidade está elaborando o calendário das festividades, que se iniciarão no dia 12 de outubro e se estenderão por uma semana, quando diversas obras públicas serão entregues pelo governador Lamaison à cidade, além de outros eventos comemorativos.”
Ao longo do texto é possível verificar com base em relatos de matérias jornalísticas da época, que embora houvesse um caráter privado na FAGAMA, representado pelos empresários, comerciantes e produtores rurais, ela havia adquirido um viés comunitário e popular, se misturando com as melhorias levadas pelo Governo aos moradores.
Aqui acho importante mencionar um personagem fundamental na história não só do aniversário da nossa cidade, mas da história geral do Gama, em razão do seu protagonismo como produtor cultural que ultrapassou às fronteiras do Gama, fazendo com que outras comunidades desejassem ter uma festa parecida com a nossa.
O mineiro de nascimento e gamense de coração Geraldinho Gonçalves merece um lugar de destaque na nossa história, em razão disso optei por tratar dele em um texto a parte que comecei a escrever, por hora vou me ater mais aos fatos históricos, que são públicos e registrados que às pessoas.
Os anos 80 seriam marcantes para o Brasil e para o Gama, mudanças importantes aconteceriam na política, na economia e na sociedade, que teriam impacto na nossa cidade e consequentemente na nossa festa de aniversário.
DÉCADA DE 80
VIII FAGAMA (1980)
O Gama iria completar 20 anos, como de costume a programação cultural havia sido elaborada numa parceria entre a comunidade e Administração Regional. Uma inovação era a central de rádio amador que manteria contato com outras rádios do Brasil, transmitindo os acontecimentos.
O stand da Associação Comercial e Industrial do Gama (ACIG) na FAGAMA homenagearia o Governador com uma exposição fotográfica sobre as principais indústrias e comércio da cidade.
Uma das atrações mais esperadas era a barraca da Administração Regional que sempre oferecia novidades que chamavam a atenção dos presentes, com uma frequência diária de aproximadamente 5 mil pessoas.
Naquela edição o stand teria dados informativos sobre a cidade e um painel luminoso com interruptores que respondiam perguntas como: a data para se apresentar ao exército, as datas de vacinação e os tipos a serem tomadas, totalizando 32 indagações e suas respectivas respostas.
Havia ainda uma fonte d’água luminosa e uma homenagem ao DETRAN com informações sobre as sinalizações e obrigações no trânsito e espaço para os estudantes do SENAI apresentarem suas confecções.
O Administrador não perdia a oportunidade ressaltar o caráter comunitário da FAGAMA, dizendo naquela ocasião:
“A FAGAMA tem a finalidade de integrar a comunidade durante uma semana numa praça pública, melhorando o relacionamento do dia a dia entre as famílias e amigos.”
As festividades teriam início na madrugada do dia 12 de outubro às 5h da manhã com uma ALVORADA FESTIVA, que consistia num cortejo com carro de som pelas ruas da cidade com fogos de artifício e falas anunciando o aniversário.
Às 7h da manhã teve a missa de inauguração da IGREJA NOSSA SENHORA APARECIDA celebrada pelo Arcebispo Dom Geraldo Espírito Santo D’Ávila no Setor Oeste.
Em seguida o Governador Aime Lamaison foi recepcionado por 10 mil crianças. E às 9h30 aconteceu um dos momentos mais esperados, a abertura da VIII Feira de Amostra do Gama – FAGAMA que costumava durar uma semana após as solenidades oficiais.
Houve o IV FESTIVAL DE CHOPP do Lions Club do Gama em sua sede que estava em construção.
As inaugurações de obras públicas naquele ano, que costumavam ocorrer como um presente do Governo à cidade, foram a segunda etapa da Rodoviária do Gama, o Parque de Serviços da Administração Regional no Setor de Indústrias, a Praça de Esportes e Recreação do Setor Sul na Quadra 5 que recebeu o nome do músico Waldir Azevedo e o Centro de Formação Profissional do SENAI.
Como atração esportiva havia a expectativa de um jogo amistoso entre Gama e Vasco que não se concretizou em razão da agenda do clube carioca. No lugar houve a disputa do Troféu Governador Aime Lamaison – GAMA 20 ANOS entre Gama e Anápolis
O Estádio Municipal do Gama já havia adquirido o apelido de “Bezerrão”, contou uma apresentação de aeromodelismo com show especial do campeão brasileiro Comandante Atílio que representaria o Brasil no torneio Sul-Americano no Chile e a participação de 20 representantes de São Paulo, Bauru, Goiânia, Anápolis e Brasília.
A noite foi aberta com um show artístico na FAGAMA que acontecia Praça da Administração Regional com destaque para os músicos João Só e Claudio Fontana, seguido da semifinal do II FESTIVAL DE MÚSICA POPULAR DO GAMA (FMPG) no auditório do Colégio do Gama (CG).
As festividades ocorreram ao longo da semana até o dia 19 de outubro contando com shows na FAGAMA, no Ginásio Coberto do Gama aconteceram o torneio de futebol de salão PERNA DE PAU e a Feira de Arte e Ciências com participação de estudantes da cidade.
Cabe mencionar o Recital de Violão regido pelo Professor de Música José Edson de Souza Lima no auditório Administração Regional, morador da cidade há 19 anos, o recital foi dividido em duas partes, a primeira sendo dedicada à Música Popular Brasileira com peças de Pixinguinha, Dilermando Reis, E. Souto, João Pernambuco e J. Canhoto. A segunda parte com música clássica e erudita de Sávio, N. Coste, A. Barros e outros.
O II FESTIVAL DE MÚSICA POPULA DO GAMA também teve o seu lugar com a final acontecendo no dia 18 de outubro, distribuindo uma premiação total de Cr$ 94.000,00 (Noventa e quatro mil cruzeiros), divididos da seguinte maneira:
1º Colocado – Prêmio (Cr$ 8.000,00) + Bolsa de Estudos (Cr$ 40.000,00)
2º Colocado – Prêmio (Cr$ 4.000,00) + Bolsa de Estudos (Cr$ 25.000,00)
3º Colocado – Prêmio (Cr$ 2.000,00) + Bolsa de Estudos (Cr$ 15.000,00)
A música vencedora foi “Sertão” de Luís Sérgio (Gama), seguida de “Osso duro de roer” de Luís Moreno (Guará) e “Eu” de Paulo César Souza de Oliveira (Guará).
O ARTESANATO da cidade foi representado numa exposição com a participação de 54 artesãos gamenses que expuseram artigos em madeira (móveis, entalhes, brinquedos, tamancos), couro (bolsas, sandálias, carteiras, cintos, almofadas e painéis), areia (garrafas ornamentais), pedras (tipos folclóricos e bichos), feltro (bonecas e tapetes), metal (castiçais, cinzeiros e utensílios diversos, cisal (suportes, bolsas e tapetes), vidro (espelhos e flores), peles, cerâmica, choche e renda.
IX FAGAMA (1981)
A programação do vigésimo aniversário da cidade não diferia muito do ano anterior, iniciando no dia 9 de outubro, a novidade seria a mudança do local onde a IX FAGAMA aconteceria, no Estádio Bezerrão e a substituição do Administrador Regional que agora era o Liomar Litran dos Santos.
O primeiro dia de festa iniciaria com o Hino Nacional tocado pela Banda do Corpo de Bombeiros, seguido do desfile estudantil-militar no Setor Central em frente à administração.
A abertura da IX FAGAMA aconteceu com seus stands representando a indústria, o comércio, o governo e os produtores rurais. Como atrações a feira teve shows artísticos que contaram com apresentações de renome nacional com JERRY ADRIANI, JOSÉ AUGUSTO e CHICO REY & PARANÁ, exposição e concurso de artesanato com participação de 45 artistas plásticos e artesãos, com premiações em dinheiro aos mais bem colocados. O Rotary e o Lions marcaram presença com lanchonetes e bares para atender aos frequentadores.
Como inauguração de obra pública tivemos a entrega do Centro de Bem-estar do Menor (CEBEM) na EQ 13/17 do Setor Oeste com capacidade de atendimento à 320 crianças no contraturno escolar, buscando oferecer atividades que ocupassem o tempo das crianças retirando-as das ruas.
No dia 10 teria a primeira semifinal do III FESTIVAL DE MÚSICA POPULAR DO GAMA (FMPG) contaria com a apresentação de 20 composições no Ginásio Coberto do Gama.
No dia 11 houve corrida de pedestres, o V FESTIVAL DE CHOPP DO LIONS CLUB e a segunda semifinal do FMPG.
A tradicional missa de ação de graças aconteceu no dia do aniversário aconteceu na Igreja de São Sebastião, o padroeiro da cidade.
No ginásio também ocorreu o TORNEIO PERNA DE PAU entre equipes das Administrações Regionais e o TORNEIO DE FUTEBOL DE SALÃO – CIDADE DO GAMA.
Segundo levantamento da ACIG, 123 mil pessoas passaram pela IX FAGAMA ao longo de seus 10 dias de duração.
O show de encerramento de José Augusto no Bezerrão teve mais 20 mil pessoas que cantaram em coro os seus sucessos. Naquela ocasião, ele era um dos cantores mais ouvidos da América Latina com uma versão em espanhol de sua música “O melhor dos meus amigos (El mejor de mis amigos)” perdendo apenas para Júlio Iglesias com a sua canção “O me quieres o me dejas”.
X FAGAMA (1982)
A décima FAGAMA aconteceria entre os dias 12 e 17 de outubro no Estádio Bezerrão, com mostra da indústria e comércio em 25 stands, exposição de artesanato e pintura, shows, teatro, parque de diversões e barracas com comidas típicas. Um detalhe importante dessa edição foi a cobrança de ingressos que eram de Cr$ 100,00 para adultos e Cr$ 50,00 para crianças.
Segundo o presidente da ACIG, Cícero Miranda Filho:
“[...] A cobrança foi necessária, uma vez que a despesa para a promoção da feira era muito alta, já estando em cerca de Cr$ 4,5 milhões. É preciso que a população entenda que esse preço é irrisório, servindo apenas para ajudar no pagamento dos artistas, que farão todo dia, após às 20 horas, vários shows durante a feira.”
A década de 80 seria marcada pelo início da derrocada da indústria brasileira, com Crise da Dívida Externa, baixo investimento, globalização e hiperinflação, que impactaram negativamente a indústria gamense que passava por uma crise que se refletia na festa de aniversário da cidade. A ACIG chegou inclusive a pedir socorro ao Banco Regional de Brasília – BRB, que criou uma linha de crédito especial para pequenas e microempresas.
Sobre a crise da indústria local o presidente da ACIG declarou o seguinte:
“A expectativa é que a feira ajude a revigorar o comércio local, quando atravessamos uma das fases mais críticas da nossa existência. A previsão é, inclusive, de fechamento de várias empresas até o final do ano.”
A coordenação artística da X FAGAMA estava por conta de Roberto Ney da Rádio Planalto e apresentador da TV Capital que elaborou uma programação com grandes nomes da Música Popular Brasileira: Bento José, José Augusto, Cyntia, Cláudio Moro, Ângelo Máximo, Martinha, João Viola, Almir Rogério, Gilvan Chaves, Sharon, Marcos Roberto, Sharon, Arando Gones, Ed Cortes e Perla.
A abertura do 22º aniversário do Gama aconteceu no Ginásio Coberto com o IV FESTIVAL DE MÚSICA POPULAR DO GAMA.
Também fizeram parte das festividades o tradicional desfile estudantil-militar com a presença de autoridades, show de um grupo de idosos denominados “Os mais vividos”, corrida de rua partindo do SESI e Manhã do Lazer no Estádio.
Segundo relatos, 100 mil pessoas participaram da FAGAMA naquele ano.
XI FAGAMA (1983)
A abertura da festa da cidade ocorreu no dia 7 de outubro com a XI FAGAMA no Estádio Bezerrão, como nos anos anteriores com 36 stands, o primeiro show foi realizado a noite pela Gretchen.
No dia seguinte teve Torneio de Futebol de Salão na quadra do SESI, Manhã de Lazer no Setor Sul.
O dia 12 teve início com uma Alvorada Festiva às 6h, seguido de inauguração de uma praça na EQ 2/4 do Setor Oeste, no Bezerrão houve apresentação de bandas escolares, desfile das equipes que participariam dos 23º Jogos Escolares do Distrito Federal representando o Gama e apresentação de coral com 200 vozes. O tradicional Festival de Chopp do Lions aconteceu como sempre.
A Radio Planalto fez a transmissão da festa com apresentação de Ricardo Noronha, com participação dos músicos Márcio Greyck, Antônio Marcos, Didi Moreno, Hamony Cats, as Mineirinhas, Cláudio Moro, Milionário e José Rico.
Um forte indício da crise econômica e da hiperinflação que se aproximava foi o aumento nos custos da festa (Cr$ 29 milhões) e dos ingressos (Cr$ 500,00), que deram um salto vertiginoso em comparação ao ano anterior, causando protestos da comunidade.
A ACIG havia assumido a realização da feira há três anos, em prejuízo da participação comunitária na organização e reclamava dos prejuízos que tiveram que ser assumidos pelos diretores da entidade em algumas ocasiões, principalmente em razão dos cachês, passagens de avião e hospedagem dos artistas.
A título de resgate histórico de reivindicações da comunidade cabe citar que, no dia 9 de outubro houve um seminário promovido por lideranças da comunidade, com o propósito de fazer um levantamento das principais demandas da cidade, que abordaram aspectos relativos à saúde, transporte, desemprego, educação, saneamento, educação, urbanização, cultura e lazer, custo de vida, violência e organização da comunidade.
No que diz respeito ao tópico cultura e lazer, respectivamente no que tange à festa de aniversário do Gama, a comunidade formulou a seguinte resolução:
“8) na realização da festa de aniversário da cidade, FAGAMA, respeitar e aproveitar os valores da nossa cidade, assim como usar para a sua organização pessoas da nossa cidade que não tenham fins lucrativos, e que deem a oportunidade e o direito de toda população participar. 9) reconhecer os valores artísticos de Brasília, não contratando artistas de fora, que acarretam uma grande despesa, que a comunidade não tem condições de assumir.”
XII FAGAMA (1984)
Em 1984 o show de abertura da XII FAGAMA no dia 10 de outubro seria grátis, com apresentações de forró estreladas por Zito Borborema, Raminho do Baião, Nicolau Cunha e conjuntos. Do segundo dia em dia o ingresso seria cobrado (Cr$ 1.000,00), com isenção para crianças de até 10 anos. Os shows contaram com Tony Damito, Cynthia, Cláudio Fontana, Joelma e Grupo Casa Nova, com apresentação de Geraldinho Gonçalves e Elias Cury.
A estrutura da festa contou com os stands, parque de diversões, bandas de música, exposição de artesanato e barracas de comidas típicas. E ao que tudo indica teve uma baixa adesão em comparação aos anos anteriores.
O restante das solenidades contou com Alvorada Festiva abrindo o dia 12 de outubro, entrega de prêmios da Maratona Cultural – Gama 24 anos, seguido de apresentação de bandas marciais escolares, entrega da dispensa do serviço militar, desfile de atletas, apresentação de coral, corrida de rua, festival de chopp, miniolimpíadas e inauguração da sede do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), com participação do Governador José Ornellas.
Cabe destacar um evento marcante para cultura da cidade que aconteceu em paralelo à FAGAMA e solenidades oficiais de aniversário da cidade. Um acontecimento relatado no Correio Braziliense de 12 de outubro de 1984 na página 22, que traz um panorama interessante da cena cultural da cidade naquela época.
O artigo “A FESTA DA CULTURA NO GAMA” começa com a seguinte pedrada:
“Hoje em dia, os grupos de teatro no Gama não são grupos verdadeiramente, são pessoas (trabalhadores que se reúnem nas horas vagas para tentar criar alguma coisa) que formam um elenco para uma peça. Depois dizem adeus e vão embora. Irão se encontrar, provavelmente, nos bares da vida, onde poderão tentar juntar suas economias e produzir outros trabalhos, já que apoio e patrocínio quase inexistem.”
Há uma denúncia da carência de espaços culturais, havendo apenas os auditórios de colégios que não são o suficiente, e uma menção aos principais grupos de música: Qualquer Coisa, Raízes, Tercéu e Bagagem.
Um debate aberto ao público estava marcado para o dia 27 sobre o livro “Passageiros da Esperança” de Admário Luiz, e os problemas enfrentados pelos artistas da cidade, que pretendiam criar uma associação de artistas e músicos.
Também se fala da Primeira Exposição de Literatura do Gama que aconteceria na sede Sociedade Esportiva do Gama (SEG), como uma iniciativa dos escritores Admário Luiz, J. Dias, Samuel Lins e Jegof, que pretendia reunir os talentos gamenses para divulgarem seus trabalhos e se conhecerem. Uma crítica à FAGAMA é feita como uma festa que reunia grandes artistas nacionais, mas que se esquecia dos artistas da cidade.
A exposição contaria ainda com os livros “Visões” e “Ensaios para Loucura” de J. Dias, com capa e ilustração do artista plástico gamense Rock Lane.
Livros de poesia dos autores Serjão, Luís Alves, Sonia Bussinger, Waldelice, Antenor, Maria Aparecida, do falecido Almeida Lins e outros também seriam expostos.
Textos de peças de teatro também tiveram o seu lugar, Márcio marcou presença com “Sempre aos domingos”, “Candangos no Gama Brasília” e “Estágio de Vida”, Serjão que também era poeta levou “O Gole” e “Pau de Arara”.
A decoração do local contou com telas dos artistas Rock Lane, Alfo, Dionísio, Juarez, Jegof e outros. Houve espaço para apresentações musicais de alguns grupos e a leitura de um manifesto literário e de um texto-poema sobre o momento político, que foi marcado pelo movimento “Diretas Já”, o arrefecimento da Ditadura Militar e o início da redemocratização que culminaria na Constituição de 1988.
Outro fato interessante merece ser lembrado, a união das associações de moradores dos setores Norte, Sul, Leste, Oeste e Central, e da Associação de Teatro e Música, que decidiram trabalhar juntas a partir daquele momento, com propósito de exigirem melhorias para a cidade, a partir o propósito eram demandarem ao governo num bloco coeso de moradores e lideranças comunitárias.
Aqui cabe destacar a fala do Diretor de Cultura da Associação do Setor Leste, Francisco Barroso Filho que criticou a mudança na dinâmica de organização da festa da cidade:
“[...] a população da cidade não tem poder para decidir sobre o seu destino, nem mesmo para organizar a festa de aniversário da cidade. Há três anos que a Feira de Amostra do Gama (FAGAMA), que serve para a comunidade comemorar o aniversário da cidade, não vem sendo mais realizada pela população. Antes a festa era feita em local aberto e as associações participavam. Agora, ela é organizada pela Administração Regional, sem que possamos opinar.”
XIII FAGAMA (1985)
O Gama chegava ao seu ¼ de século, e algo inédito aconteceu na XIII FAGAMA, a ausência da Associação Comercial e Industrial do Gama (ACIG), que pela primeira vez não teria stands na festa. Desse modo, a Administração Regional do Gama se viu sozinha, tendo que voltar a sua atenção para as entidades comunitárias, que reclamavam há algum tempo exigindo maior participação na festa da cidade.
As festividades aconteceram entre os dias 12 e 20 de outubro, iniciando com uma Alvorada Festiva às 6h, missa campal no estádio, desfile estudantil e ruas de lazer voltadas para o público infantil. Contando a presença do Governador José Aparecido, que inaugurou o Parque da FAGAMA no estacionamento do Estádio Bezerrão, que no aspecto econômico foi protagonizada pelos produtores rurais com o Feirão do Produtor.
O encerramento da FAGAMA foi com a cantora Maria Alcina no Estádio Bezerrão.
XIV FAGAMA (1986)
O crepúsculo de uma ditadura que durou 21 anos se aproximava. O Gama era uma cidade de 26 anos com uma população incerta entre 150 mil e 200 mil habitantes, que não contava mais com a potência industrial da década anterior, havia conquistado equipamentos públicos importantes que atendiam a sua população e a do Entorno, mas ainda não conhecia algo fundamental para qualquer país, cidade ou povo, a democracia.
Lideranças comunitárias e associações participaram ativamente da luta pelas “Diretas Já”, que lutava para que o povo pudesse escolher diretamente seus governantes sem a tutela dos militares, o debate político fervilhava no Brasil inteiro.
E o destaque do aniversário do Gama naquele ano foi o desfile estudantil, que durante muitos anos havia sido um desfile estudantil-militar, o debate político do momento era a escolha dos deputados constituintes que elaborariam a nova constituição do país.
Em diálogo com esse espírito de anseio democrático urgente que o país enfim respirava, as escolas e estudantes roubaram a cena com alegorias, fantasias feitas de lixo e cartazes que escancaravam os problemas que vivenciavam nas áreas de educação, segurança, saúde e trabalho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi duramente criticado e nem mesmo o Plano Cruzado escapou das queixas.
Segundo relatos, esse momento histórico foi gravado pelo Professor Enóquio de Souza Rocha, que hoje preside o Conselho Regional de Saúde do Gama, sendo procurado posteriormente a pedido do Governador José Aparecido, para que cedesse as filmagens ao Arquivo Público do Distrito Federal, como um registro acessível à posteridade.
Duas garotas virariam heroínas das crianças gamenses naquele dia, Silvana Novaes da Cruz (16) e Vânia Lúcia do Nascimento (13), conseguiram um incrível feito digno de nota, elas convenceram o Governador a pagar os ingressos do parque da FAGAMA no Dia das Crianças das 14h às 18h, de modo que graças à elas, 30 mil crianças puderam brincar sem pagar, ao fim o responsável pela FAGAMA Geraldinho Gonçalves não chegou a cobrar os ingressos do governo.
As principais atrações musicais daquela edição aconteceram com shows de Banda do Sol, Conjunto Raça Brasileira e Zé Moia, com coordenação de Elias Cury.
XV FAGAMA (1987)
Naquele ano houve uma mudança no local onde a FAGAMA aconteceria, dessa vez seria na Praça do Rotary próximo ao Cine Itapuã no Setor Leste.
A programação foi bastante rica e variada, com lançamento de livros, shows e forró, torneios esportivos, missa de ação de graças, atividades culturais, passeio ciclístico, festival de chopp e sorvete, torneio de karatê, rua do lazer, concurso de cabelereiros, apresentação da Turma do Carrossel, shows de rock, torneio de futebol infanto-juvenil, e baile da Discoteca Danny, contando com a participação da escola de samba Mocidade Independente do Gama que organizou o 1º Pagovoley.
Dentro da FAGAMA aconteceu o IV FESTIVAL DE MÚSICA SERTANEJA DO GAMA na Praça do Cine Itapuã, que ofereceu troféus e prêmios no valor de Cz$ 5.000, Cz$ 2.000 e Cz$ 1.000 aos três primeiros colocados.
Uma quantidade considerável de obras públicas seria inaugurada pelo Governador José Aparecido em companhia do Administrador Regional Cícero Miranda Filho (ex-presidente da ACIG), dentre elas: passeios públicos na EQ 24/25, playground na EQ 7/9, estacionamento da EQ 33/34 no Setor Leste e praça da Quadra 6 e estacionamento das quadras 8 e 10 do Setor Oeste.
XVI FAGAMA (1988)
A mudança de local foi um sucesso em relação ao público, que chegou a contabilizar aproximadamente 50 mil pessoas por dia, por outro lado houve descontentamento dos moradores das proximidades, que reclamaram do barulho, excesso de carros nas ruas pela falta de estacionamento e fedor de urina.
XVII FAGAMA (1989)
Curiosamente não há muitas informações sobre as duas últimas festas de aniversário do Gama da década de 80.
A XVII FAGAMA aconteceu na Praça do Rotary próximo ao Cine Itapuã, não há maiores informações a programação.
Ainda no mês de aniversário entre os dias 14 e 15 aconteceu 1ª EXPOSIÇÃO AGROPECUÁRIA DO GAMA - EXPOGAMA com leilões de Gado no Setor Oeste.
Houve ainda a entrega da Biblioteca Pública no Setor Central e apresentação de academias de dança do Gama, desfile de moda, show artístico, celebração de missa campal e 5ª Feira da Criança no Super Mercado Planaltão.
CONTINUA...
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