70 anos de um gênio do rock argentino
23 de Outubro poderia ser um dia como outro qualquer, e no fim é que é mesmo para muitas pessoas. Mas nessa mesma data, 70 anos atrás, nascia em Buenos Aires, um dos artistas mais influentes e marcantes da música latino-americana.
Carlos Alberto García Moreno, popularmente conhecido como Charly García é inegavelmente uma divindade do rock argentino, que se faz ouvir por toda a América Latina, após afirmação, aqui se faz necessário um parêntese, exceto no Brasil!
Infelizmente o nosso país vive uma espécie de isolamento cultural, que nos priva de escutar e conhecer músicos incríveis, enquanto um intercâmbio cultural potente ocorre do Rio Bravo no México até a Terra de Fogo na Argentina, incluindo o Caribe e chegando até mesmo a invadir o Império Yankee.
Alguns podem dizer que isso se dá pela diferença linguística existente entre nós que fizemos parte da América Portuguesa e eles que foram a América Espanhola, argumento que não se sustenta, tendo em vista que há décadas escutamos com atenção o que vem da Europa e dos Estados Unidos, basicamente em inglês!
Por outro lado, durante minhas viagens por esse rincão do mundo, conhecido como América Latina, pude notar que nossos hermanos, conhecem muito mais nossa produção musical e cultural, que nós a deles, em grande parte por ela ir em anexo nas novelas que exportamos, e que são muito apreciadas por todas as partes. Encontrei fãs de Zezé Di Camargo e Luciano e Alexandre Pires em Cuba, pessoas que adoravam Falamansa e Skank no Peru, chilenos que conheciam Paulinho Moska e Natiruts, argentinos que vibram ao som de Cazuza, Roberta Sá, Chico César e Raul Seixas, as unanimidades que encontrei por onde andei foram Vinícius de Morais, Tom Jobim, a Bossa Nova e Roberto Carlos.
Adoro Queen, Beatles, AC/DC, Led Zeppelin, Pink Floyd, Guns n’ Roses, Elvis, Sinatra, Michael Jackson, Madona, Eminem, Billie Holiday, Nina Simone, Robert Johnson e tantos outros músicos e bandas do Norte Global... e os conheci muito antes de saber quem eram Charly García, Luís Alberto Spinetta, Nito Mestre, Mercedes Sosa, Victor Jara, Violeta Parra, Susana Baca, Omara Portuondo, Compay Segundo, Ibrahim Ferrer, Natália Lafourcade, Maná, Silvio Rodriguez, Ali Primera, Calle 13, Jorge Drexler... E isso é reflexo do colonialismo cultural ao qual ainda estamos sujeitos, o espanhol é intragável, mas o inglês, bem, é inglês né?!
Voltando à Charly García... Afinal quem é Charly García?
Essa pergunta pode até soar ofensiva em alguns lugares da América Latina, especialmente na Argentina, seria o equivalente a perguntar para um brasileiro quem é Renato Russo ou Raul Seixas? A obviedade também é cultural!
Charly García é um ícone da música contemporânea argentina conhecido por toda a América Latina, por sua incontestável genialidade musical, tendo fundado duas das bandas mais importantes de rock argentino, Sui Generis e Serú Giran, gravando 41 discos ao longo de sua carreira, com letras e melodias que marcaram época, transitando entre a política, a filosofia e as paixões.
Vencedor de diversos prêmios ao longo de sua carreira, o maior deles o Grammy Latino. Desde criança demonstrou um talento incomum para a música, sendo estimulado por sua mãe, que o matriculou em uma escola de música no bairro onde moravam.
Talhado para a música clássica, Charly se apaixonou pelo rock n’ roll ao ser tocado pela beatlemania que varreu o mundo na década de 60, a partir daí, começou a compor suas próprias canções e melodias que entraram para a história.
A primeira canção que escutei de Charly García foi “Seminare”, uma das mais famosas do Serú Giran, composta em Búzios no Rio de Janeiro, numa roda de violão e fogueira em Cabo Polónio no Uruguai, uma balada romântica, que me chamou a atenção.
A partir daí, comecei a pesquisar e cheguei em “Botas Locas” de Sui Generis, uma música que me chamou a atenção pela crítica explícita aos militares e à ditadura, e uma coisa inevitavelmente foi levando à outra, como um fio num novelo de lá que vai sendo desfeito, e confesso que me apaixonei perdidamente.
Outro aspecto marcante de Charly García é a sua personalidade polemica, tendo sido internado algumas vezes, dispensado do exército por indisciplina, e protagonizado cenas surreais como mostrar os genitais para o público durante um show e pular do nono andar de um prédio numa piscina rasa.
Hoje, esse grande músico completa seus 70 anos, e eu não podia deixar de refletir sobre ele e sua obra, que fazem parte da minha trilha sonora de vida e me marcaram por sua sensibilidade profunda.
Feliz Aniversário Charly!
PARA CONHECER CHARLY GARCÍA:
1. Botas Locas
2. Confesiones de Invierno
3. Canción para mi muerte
4. El Fantasma de Canterville
5. Seminare
6. Eiti Leda
7. Rezo por Vos
8. Quizas porque
9. Tu amor
10. Necesito
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