Por Juan Ricthelly
1
Quando Prometeu roubou o fogo dando-o de presente aos homens, levantou a ira dos deuses contra si, pois eles acreditavam que a partir dali os homens seriam como deuses sobre a Terra.
2
Prometeu foi exilado para o lugar mais antigo da Terra do outro lado do oceano, numa montanha chamada Roraima pelos povos locais.
3
E eis que os homens haviam dominado a Terra construindo grandes cidades com muros altos e grandes castelos de pedra, onde eram governados por reis e sacerdotes.
4
Não precisavam mais dormir em cavernas ou choupanas, nem se mudar de um lugar para o outro como antes faziam em busca de alimento. Haviam a aprendido a cultivar a Terra para produzir alimento fresco e em abundância, a cercar o gado para que ele não fugisse, não precisando mais caçar pelas matas como antes faziam.
5
A raça dos homens prosperou vertiginosamente com o fogo, usando-o para o bem e para o mal.
6
Usaram o fogo para iluminar as noites escuras sem luar, afugentando as feras, se reunindo para contar histórias antigas. Pararam de comer carne crua evitando assim algumas doenças e desenvolveram muitas técnicas que melhoraram suas vidas, tornando-as mais longevas.
7
Também usaram o fogo para incendiar cidades inteiras matando milhares de pessoas em suas guerras, e criaram armas de metal para ferir uns aos outros.
8
Queimaram mulheres sábias e conhecedoras das ervas da floresta em grandes fogueiras diante de multidões ensandecidas.
9
A raça dos homens brancos do Norte cresceu, se tornando forte e numerosa. Haviam destruído todas as suas florestas construindo barcos de madeira para atravessar o mar subjugando outros povos.
10
Quando encontraram outros povos, foram bem recebidos por eles, que os alimentaram, deram de beber, cuidaram de suas feridas, ofereceram suas casas e mulheres.
11
Os homens brancos do Norte não se deram por satisfeitos, não estavam buscando a bondade que era oferecida, eles eram gananciosos e só tinham olhos para os metais preciosos e para as ervas e plantas que deixavam a sua comida mais saborosa.
12
Não demorou muito para começarem a escravizar todos os povos que encontraram, forçando-os a falarem em suas línguas, destruindo seus templos, casas, deuses e cidades, roubando suas terras e dando-as de presente para outros homens brancos do Norte.
13
A crueldade deles não tinha tamanho ou limites, dentre os mais cruéis dois nomes se destacaram como seus heróis, Cortez por destruir o império de Montezuma e sua belíssima cidade construída dentro de um lago, Pizarro por derrotar o poderoso país do povo das montanhas que lutou por 30 anos.
14
Em sua ganância por acumular riqueza e poder, os homens brancos do Norte forçaram os povos de pele escura a atravessar o oceano acorrentados em navios, para cultivar os seus campos, plantações e minas.
15
Sua crueldade era defendida e justificada pelos seus sacerdotes que trabalhavam em nome de um deus invisível, onipotente, onipresente e onisciente que nunca se manifestava.
16
A maldade era tamanha que os povos escravizados na ilha da terra de altas montanhas se rebelaram contra os seus senhores, matando e expulsando todos os homens de pele branca, tomando o país para si e proibindo a escravidão.
17
Os homens brancos do Norte e seus filhos ficaram com medo, e se uniram para punir a nação e o povo de pele escura que os derrotaram, causando uma pobreza e uma miséria que dura até os dias de hoje.
18
Com o passar dos séculos os filhos dos homens brancos no Norte se rebelaram contra seus pais, pois não mais queriam dividir a riqueza e prosperidade com eles. Guerrearam entre si por um tempo, e seus filhos foram vitoriosos com a ajuda dos povos que escravizaram, prometendo que estariam livres e teriam uma vida melhor depois da guerra.
19
Então os filhos dos homens brancos do Norte criaram suas próprias nações, mantendo o poder, as terras e as riquezas para si. Explorando a Natureza e as pessoas que haviam prometido libertar.
20
Os deuses observavam aquilo tudo em silêncio e estarrecidos, pois temiam que com o domínio do fogo os homens se voltassem contra eles, mas o que estavam fazendo eram destruir a si mesmos e o planeta.
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