TIME COMUNISTA E ANTIFA VENCE CAMPEONATO NO GAMA
Atualizado: 6 de dez. de 2021
Equipe fundada em 2017 conquista o segundo título contra o Itamaracá

Por Juan Ricthelly
Há quem diga e até acredite que política, futebol e religião são uma tríade intocável que não se deve discutir, pode ser que essa convenção social tenha validade em um lugar ou outro, mas não aqui na República Democrática e Popular do Gama, onde temos um time escancaradamente comunista e antifascista disputando o campeonato de futebol amador da cidade.
A Revolução Russa completou 100 anos em 2017, com comemorações e retrospectivas por todas as partes do mundo. Concordando ou não com o comunismo, sendo crítico ou não à União Soviética, é impossível negar a sua importância e influência na história da humanidade, e isso não é por acaso.
Antes de 1917 a Rússia era um país agrário, feudal, pobre, desigual e governado pela dinastia Romanov desde 1613, a maioria da população vivia no campo, e com o início de uma industrialização tardia em comparação às potências europeias, começava a nascer o proletariado industrial que viria a ser decisivo na revolução.
A Rússia já começou o século XX perdendo uma guerra para o Japão, que destruiu a economia e piorou as condições de vida da população, sendo considerado o marco inicial da decadência da monarquia russa.
Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Rússia lutou ao lado da Tríplice Entente, junto de Inglaterra e França, contra Alemanha e o Império Austro-Húngaro. O conflito agravou os problemas internos do país, dando munição para os opositores do Czar Nicolau II, que criticavam os problemas econômicos, sociais e políticos, que se refletiam em fome, exploração dos trabalhadores e derrotas humilhantes no campo de batalha, diante desse cenário, os camponeses, proletários e soldados se rebelaram e derrubaram o imperador em fevereiro de 1917, resultando numa situação de poder dual, onde as elites tentavam governar por meio do parlamento, a Duna, enquanto os operários e camponeses se reuniam nos Sovietes, obviamente que isso era algo politicamente insustentável. Até que em Outubro daquele mesmo ano, os trabalhadores tomaram o controle do país liderados por Lênin e Trotsky, exigindo “Paz, Terra e Pão”, retiraram a Rússia da guerra e deram início ao que viria a ser a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que em russo se escrevia Союз Советских Социалистических Республик (CCCP), transliterado como Soyuz Sovetskikh Sotsialisticheskikh Respublik.
A União Soviética foi uma das nações protagonistas do século XX, passando por um processo de industrialização que a tornou uma das principais economias do mundo naquele período, passando ilesa pelos efeitos da Crise de 29, tendo sido decisiva na derrota do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), disputando em condições de igualdade a Corrida Espacial tendo os Estados Unidos como rival, se destacando nos esportes como uma potência olímpica, se convertendo num celeiro que gerou os melhores jogadores de xadrez da história e numa sociedade que buscava a igualdade material, garantindo acesso à educação, cultura, moradia e condições de existência dignas.
A União Soviética durou de 1922 até 1991, se fragmentando em diversas repúblicas menores, com destaque para a Rússia que herdou boa parte do aparato bélico e tecnológico da nação que a antecedeu.
Obviamente que todo esse caminho foi percorrido aos trancos e barrancos, com erros e acertos, mas isso é outra história, e se aprofundar nisso, não é o propósito deste artigo.
Voltando para a República Democrática e Popular do Gama… Em 2017 a Revolução Russa completou 100 anos, para comemorar esse marco histórico, o líder comunitário Márcio Carneiro resolveu fundar o CCCP e inscrevê-lo como uma equipe na Liga de Inclusão Social e Esporte do Gama (LISEG), com um uniforme vermelho e o martelo e a foice no brasão, conquistando a simpatia e a torcida de stalinistas e trotskistas da cidade, que alguns chamam de Clube dos Companheiros e Camaradas da Periferia (CCCP), já que a pronúncia da sigla em russo é quase um trava línguas.
E para os que ainda insistem na tríade indiscutível (Religião, Política e Futebol), em 2019 o CCCP chegou a recusar o patrocínio de um empresário gamense conhecido nacionalmente por suas declarações homofóbicas, que foram pauta do Jornal Nacional esse ano, naquela ocasião, o tal empresário fez declarações apoiando o aumento das passagens de ônibus e sugeriu que os manifestantes que apareceram em uma solenidade no Gama para protestar contra o Governador Ibaneis Rocha, deveriam ter sido contidos por jagunços, pois na época em que o próprio era um jagunço comissionado com recurso público, tais situações não ocorriam. Em razão disso, o CCCP recusou o patrocínio e colocou o símbolo Antifa no uniforme.

De lá pra cá o CCCP disputou 6 competições pela LISEG, chegando em 3 finais, se consagrando Campeão da Taça Cidade em 2019, e no último sábado (04/12) conquistando o Gamadão 2021, por 1x0 contra o tradicional e poderoso Itamaracá, uma equipe que costuma disputar os campeonatos de forma bastante competitiva e com vários títulos na bagagem, com gol de André Luiz.
Deixamos o registro da nossa alegria e orgulho pela vitória do CCCP, esperamos que seja o segundo de muitos outros títulos que virão. E se alguém perguntar para você um exemplo de onde o comunismo deu certo, responda de forma curta e grossa:
— No Gama!

"Proletários de todos os países, uni-vos!" Karl Marx