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Horta Comunitária de Santa Maria produz alimento orgânico dentro da cidade com preços acessíveis

Por Juan Ricthelly
O que o governador, um dos homens mais ricos de Brasília e uma senhora idosa da periferia do Distrito Federal têm em comum?
O governador dispensa apresentações, mas caso ache necessário, sugiro a leitura do texto “Quem foi Ibaneis Rocha?”.
Mas ele e a Vózinha, nossa protagonista, compartilham a mesma origem, ambos são de Correntes no Piauí, embora estejam em lados totalmente opostos na pirâmide social.

Vózinha é o apelido carinhoso de Dona Edmar, que é chamada assim pelas crianças e adultos que passam pela vistosa Horta Comunitária que agora faz parte da paisagem da QR 304 da Santa Maria Sul, junto com o Espaço Moinho de Vento e o CAIC Albert Sabin.
A área de 11.000 m² com destinação para a cultura, já foi uma espaço concedido para uma ONG que oferecia cursos, capacitação, oficinas, futebol e judô para a comunidade, e devido a problemas relacionados a supostos desvios de recursos, o projeto foi abandonado, juntamente com toda a estrutura do lugar, que sofreu deterioração e invasões, se convertendo num ponto de consumo de drogas.
Até que 11 anos atrás a Família HIP HOP ocupou o espaço, que ganhou o nome “Moinho de Vento”, com o propósito de dar uma destinação que pudesse atender à comunidade local, oferecendo cursos e projetos que tiveram que ser interrompidos em razão da pandemia.
O CAPS Flor de Lótus por meio da assistente social Paula Foltran, iniciou uma parceria com o Espaço Moinho de Vento, envolvendo os usuários do CAPS e a comunidade para a construção de uma Horta Comunitária, que já começa a dar resultados, com a primeira produção de alimentos orgânicos no local, contando com oito tipos de alface, couve, cheiro verde, acelga e outros vegetais.
Uma horta linda! De comer com os olhos, com alfaces enormes, de várias cores e formatos, produzidos por aquelas pessoas, sem veneno e por preços acessíveis (R$ 3,00). Uma iniciativa louvável e com um potencial imenso, já imaginaram se todas as áreas urbanas não utilizadas, ou ao menos parte delas, fossem utilizadas para plantar comida?

Imaginem a quantidade de alimento que poderia ser produzido, a comunidade ao redor envolvida trabalhando junta, o quão barato seria adquirir por não haver necessidade de transporte, superfaturamento, possibilitando um contato direto entre produtores, co produtores e consumidores, sem a necessidade de intermediários, sem agrotóxico e tendo a certeza da procedência…
Dentro do contexto do nosso país, as hortas comunitárias representam uma iniciativa importante, que junto com o MST e as Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSA’s) fazem um contraponto ao tão alardeado agronegócio, por produzirem dentro um modelo que prioriza a população local, sem o uso de veneno, evitando desmatamentos, sem monocultura e fora da lógica latifundiária, que concentra porções imensas de terras nas mãos de poucas pessoas.
Segundo informações do Ministério da Agricultura, entre 2016 e 2020 foram liberados 2.027 agrotóxicos, número que contrasta em comparação com os 1.954 que foram liberados entre 2000 e 2015, ou seja, em apenas quatro anos se liberou mais agrotóxicos do que nos 15 anos anteriores.
O agronegócio segue batendo recordes de exportação, só no mês de Setembro foram US$ 10,10 bilhões, valor que representa um crescimento de 21% em comparação ao mesmo período do ano anterior.
Em contraste a tanta abundância e crescimento econômico, metade da população brasileira (116 milhões de pessoas) vive com algum grau de insegurança alimentar, e ao menos 19 milhões estão passando fome.
A inflação no Brasil é o dobro da prevista para os países do G20, de acordo com a OCDE, e a dos alimentos foi de 12,54% no acumulado de 12 meses e de 21,39% desde o início da pandemia. Num país onde segundo o IBGE, os gastos com alimentação representam 20,91% da renda das pessoas.
Ou seja, num dos países que mais produz alimento no mundo, parte considerável de sua população passa fome e paga cada vez mais caro pela comida! E aqui cabe fazer alguns questionamentos com propósito de causar reflexões importantes:
Para onde vai toda essa riqueza gerada?
De que forma o país e a maioria de sua população colhe os benefícios do agronegócio?
Deixo as respostas no ar, para que você mesmo as encontre, e te convido a apoiar a Horta Comunitária do Moinho de Vento, adquirindo os produtos, visitando o local e conhecendo as pessoas por trás da produção, fica aberto de segunda à sábado praticamente o dia inteiro.
Para dúvidas, informações e maiores detalhes deixo o telefone da assistente social Paula Foltran, responsável pela iniciativa (61991609121).