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O JULGAMENTO IMPLACÁVEL DA HISTÓRIA

Por Juan Ricthelly

 

Ontem morreu Alberto Fujimori aos 86 anos de idade, por ironia do destino logo ontem, no aniversário do Golpe de 1973 no Chile, um dos acontecimentos históricos mais marcantes da América Latina, um ditador morreu no aniversário de um Golpe de Estado.

 

Fujimori chegou ao poder no Peru em 1990 dando um autogolpe dois anos depois, com direito à fechamento do Congresso, violação de direitos humanos, corrupção e abuso de poder, ficando uma década no poder.

 

Chegou a ser preso e condenado pelos crimes que cometeu como Chefe de Estado, algo raro na historiografia latino-americana.

 

Mas o que me motiva a escrever essa reflexão é são os conceitos de “Julgamento Implacável da História”, “Tribunal da História”, “Lata de Lixo de História” e congêneres, que transmitem a ideia de que a história e as gerações futuras vão julgar àqueles que promoveram o mal em algum momento.

 

Já invoquei esses conceitos algumas vezes para suavizar o sabor de uma derrota passada ou presente, como um meio de dizer “vocês venceram agora, mas no futuro...”, tolice minha! Não existe nada disso!

 

Por mais que existam leituras alternativas da história, na maioria das vezes ela é escrita pelos vencedores, e os supostos “reús da história” quase sempre morrem de velhice, depois de terem tocado o terror e usufruído de uma vida colhendo benefícios de todo o mal que fizeram, com admiração de parte da população até.

 

Pinochet morreu aos 91 anos, o ditador paraguaio Alfredo Stroessner morreu exilado aqui em Brasília aos 93 anos, Videla morreu aos 87, Castello Branco aos 69, Costa e Silva aos 70, Geisel aos 89, Figueiredo aos 81, Delfim Netto aos 96, e ontem Fujimori morreu de velhice em casa cercado pela família aos 86 anos... Ao que tudo indica, ter sido um ditador ou colaborador da tirania é um fator positivo de longevidade.

 

E isso é algo que me fez abandonar esse conceito de Tribunal Implacável da História, é vazio, e traz um grau fé no conformismo de que o futuro vai de alguma forma redimir o passado, punindo em morte àqueles que não foram punidos em vida.

 

Num mundo ideal, todos esses tiranos que morreram de velhice, deveriam ter morrido anos antes num atentado terrorista promovido por alguma organização revolucionária, num paredão de fuzilamento, enforcados, guilhotinados ou arrastados humilhantemente por ruas e praças pela plebe enfurecida... É uma injustiça imensa que a vida tenha sido generosa com eles possibilitando uma morte tardia, cercados por familiares, amigos e entes queridos, enquanto tantos outros morreram na flor da juventude lutando contra eles.

 

Já vai tarde Fujimori! Que a terra tenha o peso de todo sofrimento que você causou e dos cadáveres que você fabricou multiplicado por mil!

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