O filme Juão com Fibra é um encontro entre o artesanato e o cinema que conta a história de um artista do Novo Gama
Por Juan Ricthelly
João Gomes, mais conhecido como Juão de Fibra, está hoje entre os ganhadores do Prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato. Mestre Artesão de Referência Cultural, nascido em 1970, em uma cidade no interior do Ceará, filho de pai pescador e mãe artesã, aos 13 anos de idade João Gomes já criava seus primeiros trabalhos retratando a natureza existente naquela localidade, e relata que teve e tem como inspiração a Mestra Dona Antônia Lopes de Oliveira, que foi a precursora do trabalho em Brasília.
João hoje tem seu trabalho desenvolvido em sua maioria com o capim Colonião e fibras aquáticas, terrestres ou aéreas, mas tem a habilidade de adequar seu trabalho a qualquer matéria prima existente na localidade sempre com sustentabilidade e respeito ao meio ambiente.
O filme JUÃO COM FIBRA foi dirigido pelo diretor pernambucano Ângelo Lima, percorrendo os lugares onde o mestre nasceu, viveu suas memórias e referências, onde aprendeu a trançar com sua mãe, percorrendo os caminhos feitos por sua família até chegar no coração do Brasil.
O artesanato transformou João Gomes em Juão de Fibra, um homem em um artista, com sensibilidade, criatividade e uma visão além do agora, com muitas possibilidades, superação e fé na vida.
Por meio dessa importante obra biográfica veremos como, Juão de Fibra percorreu um caminho íngreme até chegar ao reconhecimento como artista que representa não somente o artesanato de Goiás e DF, mas do Brasil.
O menino que nasceu em Varjota interior do Ceará, que aprendeu as primeiras tramas com a mãe, Mariana Gomes, que confeccionava chapéus, cestos e outros objetos em palha de carnaúba, ensinando um menino que já tinha uma imaginação fértil, vendo em tudo da natureza uma forma, uma figura, como tartarugas em pedras e pássaros em folhas e galhos.
João Gomes tem uma história semelhante à milhões de brasileiros, que migraram do Nordeste fugindo da seca, da fome e da pobreza, rumo à capital do Brasil, em busca de novas oportunidades no Planalto Central, e desde então vive no bairro Pedregal, em Novo Gama Goiás.
Entre tantos anos de trabalho, Juão de Fibra não tinha seu trabalho reconhecido, chegando a passar por dificuldade financeira e profissional. Não era reconhecido como um trabalhador e sim com um desocupado que trançava capim, em momento de tamanha desilusão queimou todas as peças que possuía e ficou cinco anos sem trabalhar com a arte.
Quando por um acaso da vida uma de suas peças chegou à Secretaria de Trabalho do DF e foi aí que sua vida como artesão deu uma guinada e seus trabalhos ganharam notoriedade.
O mestre fez com que o seu trabalho se tornasse conhecido por apreciadores do artesanato em todo o Brasil. Além de participar de várias exposições e feiras, ganhou um livro sobre sua história, teve suas peças utilizadas em ambientações sofisticadas como CasaCor além de estampar revistas como a Casa Vogue. Também figurou também entre os melhores artesãos do Brasil no catálogo elaborado pelo Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro, homenageado na maior feira de artesanato da América Latina, a Fenearte.
Usando o capim como vetor de mudança social, Juão de Fibra iniciou o projeto de ensinar e dividir o seu saber, seu conhecimento da trama, das fibras e da importância da arte como papel social, econômico, preservação e cultural de cada região em que ele ensina o que tem como recurso natural de cada lugar.
A produção do filme documentário sobre a vida e obra de João Gomes, hoje conhecido como mestre Juão de Fibra se faz como um importante e necessário registro de uma vida cheia de desafios e superação, onde a arte se fez mais forte e transformou um menino sonhador nascido no estado do Ceará, um homem que tem um papel determinante para disseminar a arte que o fez, com sua criatividade, se tornar único, sendo um agente transformador social, com projetos de capacitação.
Um homem como poucos que se destaca pelo bom gosto, com criação de peças marcadas pelo design autêntico como cestos, painéis, bolsas e bichos decorativos que contrapõem a rusticidade do capim com formas trançadas em capim Colonião e outras fibras brasileiras como o capim dourado e a palmeira de buriti, além da madeira e da cabaça. orgânicas e elegantes.
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