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¡Hay un niño en la calle!

Foto do escritor: Juan Ricthelly Vieira da SilvaJuan Ricthelly Vieira da Silva

Por Juan Ricthelly


Copacabana – Rio de Janeiro, por volta de 8h da manhã, caminhávamos eu, Camila, os meninos e a minha avó procurando uma padaria para tomar um café antes de iniciar o dia, uma família dormia ao relento na calçada, uma mãe e três filhinhos pequenos, um deles bebê. Depois de um tempo Thor pergunta:


“Mamãe! Por que tem crianças dormindo na rua?”


“É mãe! Por quê?” – reforçou Vinny.


Minha vó e ela olharam para mim automaticamente.


“Pergunta pro seu pai!”


E eles olharam para mim esperando uma resposta, que todo mundo sabe de uma maneira ou de outra. Respondi da melhor maneira que pude, que vivemos em um mundo injusto, num país injusto e numa sociedade extremamente desigual, onde poucas pessoas são donas de tudo e muitas não possuem o mínimo pra existir de forma digna, e que em razão disso muita gente passa fome, mesmo o nosso país sendo um grande produtor de alimentos, não tem casa pra morar mesmo existindo um monte de casas, edifícios e prédios vazios e que o capitalismo com a sua ânsia de mercantilizar as necessidades humanas mais básicas era o maior responsável por aquela situação.


Vez ou outra esses assuntos voltam, e faço questão de explicar aos meus filhos sobre como as coisas são, deixando claro que jamais devem normalizar as injustiças e absurdos do mundo, e sobre o quanto eles são privilegiados por terem pais instruídos, um lar e uma família estruturada, roupas para vestir, comida a hora que querem, um teto e uma cama para dormir, acesso à cultura, contato com a natureza, supérfluos que eu sonhava ter na minha infância e cercados de pessoas que os amam e os protegem.


Mas que existem crianças como eles, que não possuem nada disso.


“A esta hora exatamente hay un niño en la calle... ¡Hay un niño en la calle!”


E isso tem que doer, incomodar, revirar o estômago e inquietar a alma de toda e qualquer pessoa que ainda tenha o mínimo de humanidade dentro de si, parece que em algum momento nós desistimos de construir um mundo onde todas as pessoas deveriam ter comida, casa, trabalho, educação e saúde, ninguém mais fala disso num sentido estruturante do nosso fazer político, não existe mais ódio ou qualquer confrontação contra quem nos impede de construir esse outro mundo onde não existam crianças ou adultos vivendo na rua.


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