ANO NOVO
Crônica de um réveillon esquecido

Por Juan Ricthelly
Não me recordo o ano com exatidão, acho que estava na sétima ou oitava série, devia ter uns 13 anos, talvez fosse 2004... Ou 2005... A data exata é o menos importante aqui, o fato é mais.
Vivi muitas noites de ano novo depois daquela, mas somente nela presenciei algo que jamais vi desde então.
A rua e as casas estavam apinhadas de tanta gente, as famílias estavam densamente unidas naquele ano novo, em minha casa mesmo estavam todos os meus tios, tias, primas e primos, somos uma família nordestina grande pra caralho, como a maioria de nossos vizinhos, sei que Dona Constância é do Ceará e Dona Dora da Bahia, o pessoal lá de casa da Paraíba, talvez tenhamos representantes de todos os estados do nordeste em nossa rua que é sem nome.
A comida estava pronta desde às 21:00, a maioria de nós fomos à última missa do ano, eu até servi como coroinha nela, mas aquela época tínhamos o hábito de comer somente a meia noite em ponto, não havia internet, wi-fi e redes sociais, então tínhamos que conversar e brigar ao vivo mesmo, olho no olho.
Uns ficavam na sala sentados no sofá conversando com a televisão ligada. Outros na cozinha arrumando a mesa, alguns observando a rua, e as crianças brincando em algum canto.
Me recordo que após a contagem regressiva todos se abraçaram se desejando feliz ano novo e assim que os abraços em família findaram, fomos pra rua ver os fogos de artificio, e parecia que todas as pessoas tiveram mesma ideia, de modo que a rua estava cheia de gente de uma ponta a outra, com todos se abraçando e se desejando feliz ano novo, abracei e fui abraçado por pessoas que nunca mais abracei ou vi na minha vida, que cena memorável aquela, fiquei muito feliz em viver aquilo, nos anos seguintes sempre saia pra rua para ver se algo assim se repetia, e pra minha decepção nunca mais algo assim ocorreu.
P.S: Fragmento do livro inacabado Crônicas Gamenses: Histórias de uma cidade que ama
Gama-DF 2010